Diferença entre Yoga e Meditação

Meditação e Yoga têm a mesma relação que a flor de lótus tem com suas pétalas, ou seja, não é possível que exista flor de lótus sem pétalas, ou Yoga sem Meditação nem Meditação que não leve ao estado de Yoga, dentro do contexto das práticas iogues.


Quando falamos de Yoga, normalmente, vem em nossa mente a imagem de alguém fazendo alguma postura complicada com o corpo. Mas na realidade essas posturas, dentro da filosofia e prática do Yoga, são chamadas de ásanas (lê-se ássanas). Então, a palavra Yoga se refere a algo mais amplo, cujas posturas (ásanas) são apenas uma parte do corpo do Yoga.

Agora, quando falamos em meditação, podemos estar nos referindo a uma variedade de práticas, como as meditações budista, mindfulness, sufi, podendo cada uma ter um objetivo e um sistema distinto de práticas. Mas neste texto, vamos nos ater à prática de meditação intrínseca ao Yoga, a Meditação Iogue, ou ainda, a Meditação Yoga.

Afinal, qual a diferença entre Yoga e Meditação?

Na realidade, essa pergunta por si só soa estranha, é como perguntar: qual a diferença entre uma flor de lótus e suas pétalas? Mas realmente é possível fazer essa diferenciação se a existência da flor de lótus depende de suas pétalas e vice-versa? As pétalas são apenas uma parte da flor, e a flor é composta por outras diferentes partes, mas de qualquer forma, é necessário que uma exista para que a outra também exista. Dessa forma, parece que a pergunta está mal formulada.

Meditação e Yoga também têm essa mesma relação entre a flor de lótus e suas pétalas, ou seja, não é possível que exista Yoga sem Meditação nem Meditação que não leve ao estado de Yoga, no cenário das práticas iogues.

Aliás, no Yoga, encontramos diferentes práticas e muitas delas já têm milhares de anos. Há aproximadamente 2000 anos, o sábio Maharishi Patanjali sintetizou e compilou essas práticas, que foram publicadas na obra intitulada por Yoga Sutras, que também é referenciada como Yoga dos 8 Membros ou Yoga dos 8 Passos.

Olhando para essa síntese do mestre Patanjali, fica mais claro o papel que a Meditação tem na jornada do Yoga.

O conteúdo desta obra funciona como uma espécie de mapa para as práticas iogues. Neste mapa, estão contidos os 8 elementos mais significativos que podem orientar o iogue à autorrealização ou ao estado de Yoga.

Então, pode-se dizer que, para a realização do estado de Yoga, necessitamos de 8 ingredientes fundamentais, e a prática de Meditação Iogue é o elemento que se relaciona com cada um deles, trazendo coesão para todo o sistema de prática.

Vamos entender como funciona o Yoga dos 8 Membros e sua relação com a meditação?

Os dois primeiros membros ou passos se referem à postura ética do iogue- yamas e niyamas, ou seja, não será possível alcançar a máxima realização humana (Yoga) sem uma postura ética. Uma pessoa não conseguirá manter uma mente concentrada, equilibrada e calma no processo de meditação, se não estabelecer um convívio harmônico e de compromisso amoroso consigo mesmo e com os outros; é necessário um comprometimento com o seu próprio bem-estar e de todos os outros seres, caso contrário sempre haverá muito conflito mental, talvez também conflitos externos, e não será possível meditar adequadamente.

O terceiro membro está relacionado com a boa saúde do corpo. Os ásanas (postura mantida confortavelmente), ou as posturas do Yoga, são movimentos corporais acompanhados de uma respiração apropriada a fim de manter nosso corpo saudável e a mente equilibrada para que possamos nos sentir confortáveis e dispostos quando sentarmos para meditar; caso não consigamos manter o corpo confortável e relaxado, será muito difícil alcançar um estado mental calmo e concentrado.

O quarto membro é a prática de um tipo de respiração bem especial chamada de pránáyáma. Esse tipo de respiração tem grande impacto sobre nossa mente subconsciente e também sobre nosso corpo físico. Com esse tipo de respiração é possível tratar muitas doenças físicas e ter grande controle sobre nossa energia vital (pránáh). Essa prática fortalece nossa saúde física e mental e nos ajuda a controlar/purificar nossa mente subconsciente.

O quinto é a prática de pratyáhára, que significa retirar a atenção mental de nossos sentidos com o objetivo de conduzi-la para um estado subjetivo, direcionando a mente para um único ponto, a Consciência Cósmica.

O sexto membro é a prática de dháraná, que é a prática de fixar a mente em um único ponto, geralmente um chakra. No processo de Meditação Iogue, a mente se fixa em algum ponto do corpo por um tempo, depois se move para outro ponto e se mantém ali por mais algum tempo, e depois se move novamente para um outro ponto... Com essa prática desenvolve-se grande poder de concentração.

O sétimo membro é dhyána, é a meditação profunda. Nessa prática a mente flui continuamente para um único ponto, a Consciência Cósmica.

As práticas do quarto ao sétimo membro (pránáyáma, pratyáhára, dháraná e dhyána) são feitas em postura de meditação (padmasana, p. ex.) e com os olhos fechados. Além disso, são realizadas com a utilização de mantras específicos, com visualizações e ideações específicas, seguindo um ritmo bastante lento e profundo da respiração diafragmática (ou a respiração iogue), que é realizada sempre pelo nariz, tanto na inalação quanto na exalação. Recomenda-se ainda que estas práticas nunca sejam realizadas a partir de conhecimento obtido apenas em livros, devido aos profundos efeitos que têm sobre a mente e o corpo.

Resumidamente, nos dois primeiros membros (yamas e niyamas) estão o ponto de partida de toda ação iogue, os quais o ajudarão a manter uma mente íntegra em todas as situações. No terceiro (ásanas), buscamos manter uma boa saúde física para podermos sentar sem dores e alcançar um bom nível de relaxamento físico e tranquilidade mental.

Então, do quarto ao oitavo membro já estamos em postura de meditação. Normalmente realizamos primeiramente a prática de pratyáhára com ajuda de visualizações específicas, a fim de retirar a atenção mental dos sentidos e conduzi-la para nossa subjetividade.  Posteriormente fortalecemos nossa concentração com a prática de pránáyáma com ajuda de mantras e visualizações específicas.  Depois utilizamos da prática de dháraná para purificar a mente, que é um de seus efeitos, quando feita com mantras e visualizações adequados e locais corretos de concentração. Posteriormente conduzimos toda nossa força mental para um único ponto, geralmente está associado com um chakra superior, e com a ajuda de mantra e ideação apropriada, deixamos nossa mente fluir ininterruptamente para o objeto de concentração do iogue, a Consciência Cósmica, isso é dhyána. A partir deste ponto podemos realizar o último membro ou passo.

O oitavo membro é chamado de Samádhi - o estágio de absorção total. Depois que tornarmo-nos verdadeiros peritos em dhyána, poderemos nos fundir em nosso próprio objeto de concentração. Neste ponto, nosso sentimento de individualidade “Eu sou Ravi”, p. ex., se torna “Eu sou Ele” ou “Eu sou Ela”, não há mais distinção entre o “eu” individual e o “Eu Cósmico”, nós nos tornamos o próprio Cosmos, isso é realizar o Yoga.

Todos os primeiros 7 membros nos levam a realizar a experiência de Samádhi, contudo o Samádhi ainda não é o ponto final do iogue. O praticante deverá seguir cada um dos 8 passos regularmente até finalizar sua jornada neste planeta.

Podemos entender, portanto, que a meditação nada mais é que o processo prático para a realização do Yoga.

Esses temas (yoga e meditação) e outros bem interessantes, como chakra, kundalinii, mantras, camadas da mente... são abordados em nosso livro: Meditação Iogue. Jornada para o Amor Infinito.

Texto: Bháskar Deva. E-mail: meditacao.iogue@gmail.com